28/02/2017

CALENDAS
















Nasci para ser passagem
Para o que vive além de mim
Além dos ares, além do pranto
Além das nuvens que desbotam encantos
Além da seiva de qualquer jardim.  

Nasci para nada alcançar
Para viver perdida
Tão leve e solta como é a brisa
Buscando amores benditos
Quase à toa, quase à guisa
De nunca os consagrar

Nasci para a dança dos corpos
Para os copos vazios
Para a ébria fome de viver
Sem perceber que o motivo
Dormira dentro de mim
No sonho que foi de outros
No afago sutil de muitos
Teimando buscar sentido
E não sucumbir ao fim

Porque meu tempo
Está perdido desde sempre
Acabado desde o ventre
Pronto, findado, exato  
Meu espaço foi público e coletivo
Compartilhado de fato
Até nas dores sem juízo
Até nas cenas sem atos

Performances na coxia
No palco e no sentimento
Nada foi escamoteado
Nem o que arrastou o vento
Nem o que deixou pecados
Tombando castelos de sonhos
Jamais edificados


Rezas, breus, lágrimas de antanho
A suportar ladainhas de mesmices
Repletas de um sentir sofrido
Empobrecidas de ventura e riso
Na solidão que quase chegou
Mas recusou o momento
No palco dos sentimentos  
Que o tempo não levou

E se estive sozinha
Não fui única  
Nem mesmo fui a rainha
No reino do meu pensamento
Pois no desaguar do que deixo
No rescaldo do passado
Combalida no desejo
Que persegue meu encalço
Entendo que vivi sem pejo
Entre o verdadeiro e o falso

Nos braços da Poesia
Encontrei, enfim, regaço
No tablado da agonia
Versos de amor eu faço
Pendurada em fio de rimas
Que tremulam na paisagem
Enquanto o mundo se agita
Na universal tempestade...

Por: Josyanne Rita de Arruda Franco
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Primeira Menção Honrosa
PREMIO BERNARDO DE OLIVEIRA MARTINS - 2015/2016

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