22/02/2020

AVISO IMPORTANTE - NOVO BLOG

ATENÇÃO !
A partir da presente data os textos dos sobramistas paulistas e as atualizações da SOBRAMES SP serão postados em um novo Blog:
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Márcia Etelli Coelho
Presidente SOBRAMES SP

15/01/2020

A IMPORTÂNCIA DAS ACADEMIAS DE LETRAS NA TRANSFORMAÇÃO DO SER HUMANO



Por Helio Begliomini

Quem não vive para servir não serve para viver”. (Máxima popular.)

As academias sobrevivem desde tempos imemoriais. São mais que bimilenares. Tem-se que a primeira delas originou-se com Platão (427-348 a.C.), no ano de 327 a.C. Ele se reunia com seus discípulos para discussões filosóficas – origem de sua renomada Escola –, no mesmo local em que teria morrido o herói Akademus, galardoado pelos deuses com a intocabilidade de seus domínios e em cujo sítio fora construído um templo à deusa da sabedoria e da inteligência, Atena.

 Por inspiração e por atavismo, seus seguidores cultivavam os valores da inteligência, da sabedoria e da beleza e permeavam seu relacionamento com as virtudes da fraternidade, solidariedade e lealdade.

Embora muito distante da hodierna era da informática, o aparecimento da academia mescla o mundo real com o etéreo ditado pela substanciosa e fértil mitologia grega.

A academia de então nada mais era do que o embrião das universidades que viriam a se formar na Europa medieval dos séculos XII e XIII, particularmente na Itália e na França.

O grupo aglutinado ao redor de Platão e, ao longo dos séculos subseqüentes no seio de outras instituições congêneres, tinha como denominador comum o anseio pelo conhecimento, pelo entendimento ou ciência e, por conseguinte, pela verdade. Esses mesmos ideais e anelos distinguiam seus membros dos cidadãos comuns, irmanando-os naturalmente em confrarias, ainda que não se jactassem com esse nome.

É próprio do ser humano viver em sociedade e defender seus territórios, mesmo que sejam de ordem cultural. Assim, com os membros das academias surgia naturalmente a necessidade de se proteger e de se querer bem. 
As academias, que desde priscas eras começavam a arregimentar entre seus membros, cada vez mais, um grupo seleto de participantes – uma massa pensante crítica e influente, nem sempre condizente e, por vezes, contrapondo-se com os interesses dos governantes –, não resistiram ao poder e a interferência do mando político, sendo, a tradicional Academia de Atenas supressa, em 529 d.C., pelo imperador romano Justiniano I (483-565).

Observa-se que as academias surgiram da necessidade inata que plasma o ser humano de se aprofundar no conhecimento, através do exercício da razão, para, em seguida, interagir e interferir com a vida em sociedade.

De nada vale segregar o conhecimento adquirido ou a verdade encontrada (deduzida), por vezes a duras penas, dos demais membros da sociedade, alijando-os das benesses deles advindos, ainda que eles não estejam preparados para compreendê-los ou utilizá-los.

As academias ressurgiram com plena força na transição entre a Baixa Idade Média e a Idade Moderna, particularmente nos séculos XV e XVI, com o Renascimento, e tiveram na Academia Francesa, fundada, em 1635, pelo cardeal Richelieu (1585-1642), seu paradigma, o qual as têm norteado até os tempos atuais.

Dentre as prerrogativas que caracterizam as academias dos tempos modernos está o número restrito de participantes – limitados tradicionalmente em quarenta – e, a vitaliciedade, ou seja, a eleição de um novel acadêmico só pode ocorrer com a morte de um titular.

Assim, ao longo do tempo, os pertencentes às academias foram alcunhados de imortais. E a “imortalidade” lhes deve ser familiar, não no que tange a materialidade e a efemeridade de seus corpos, mas sim, ao alcance e a importância de suas obras e feitos.

Felizmente, hoje em dia, há um grande número de pessoas que poderia pertencer às academias. Pelo graduado contingente disponível, sobremodo em grandes cidades, e pelo tradicional afunilamento no ingresso em tais sodalícios, não seria nenhum atrevimento dizer que há, até, proporcionalmente, maior número de talentos fora do que dentro dessas entidades.

É natural que tais prerrogativas limitam muito os eleitos e que critérios nem sempre técnicos, mas subjetivos, políticos, de amizade e de benemerência, dentre outros possam prevalecer, por vezes, na escolha de um candidato.

Verdade também é que nem todos os elegíveis têm o espírito acadêmico de viver e de compartilhar seus feitos em grupo, em coletividade. Embora a excentricidade e a vaidade sufoquem ou arrefeçam os predicados de alguns acadêmicos, para outros, apesar de seus méritos, tornam-se fatores impeditivos de pertença a tais silogeus.

Isto posto, merece reflexão serena, ao mesmo tempo em que profunda, por parte das academias – lato sensu –, de seus dirigentes e de seus membros, uma vez que tais instituições não devem ser tidas como fossilizadas, démodé, inertes e marginais. Ao contrário, precisam disponibilizar sua cultura, seu conhecimento, seus virtuoses ao bem comum social, interagindo e melhorando seu entorno, tão amplo quanto possível, tal qual a propagação de ondas numa superfície líquida.

As academias de letras pelo seu próprio mister devem interagir com suas comunidades, escolas, faculdades, universidades, bibliotecas e instituições congêneres, oferecendo programas de palestras, conferências, cursos, tertúlias e instituindo concursos literários, a fim de promover o cultivo do vernáculo, a divulgação da cultura e o fomento pelo saber.

No contexto hodierno há dois fatores que se lhe antepõem nesse desiderato: um intrínseco e outro extrínseco. O primeiro deles deve-se aos parcos recursos que perpassa a quase totalidade das entidades culturais neste país, contribuindo para abortar projetos sequer concebidos, gestados ou paridos. A esse fator acrescenta-se o desgaste que a todos acomete pela azáfama da vida moderna, tornando quaisquer que sejam as ações diletantes, portanto, não-remuneradas, como secundárias ou não-prioritárias. E vários acadêmicos não têm ficado imune a mais este percalço dos tempos atuais.

Na esteira desse pano de fundo deve-se citar que, como fator extrínseco, vive-se numa sociedade marcada pelo utilitarismo, pragmatismo, materialismo e hedonismo que, por sua vez, desconsidera ou ignora os valores do espírito e da cultura. Paradoxalmente, a mentalidade reinante do self-service e do descartável contrapõe-se ao interesse pelo estudo, pelo aprofundamento, desvalorizando o sacrifício, o sentimento e o altruísmo.

É neste contexto, minado por forças antagônicas internas e externas, que as atuais academias de letras – verdadeiros oásis culturais –, regra-geral, se encontram. Curiosamente, é também nele em que elas devem encontrar o substrato de seu plano de ação, ou seja, mostrar o porquê de suas existências, transformando realidades e humanizando ambientes.

Nada mais oportuno do que lembrar o lema da Academia das Ciências de Lisboa fundada, em 1779: Nisi utile est quod facimus, stulta est gloria, traduzido por “Se não for útil o que fizermos, a glória será vã”.

A fim de que o ideal do conhecimento, ciência, sabedoria, beleza e verdade materializado na vetusta Academia de Platão, mas inerente a todo homem, não esmoreça, os hodiernos acadêmicos e seus sodalícios de letras deverão labutar contracorrente e em desvantagem, haurindo energias e vitalidade de seus precursores, a fim de suavizar a fantástica saga humana.

13/01/2020

PRIMEIRA EDIÇÃO DE 2020

O BANDEIRANTE - nº 326 - JANEIRO de 2020
(clique na capa abaixo para fazer download)

Na edição nº 326  do jornal "O BANDEIRANTE"  você encontrará o noticiário do período e na parte literária os textos em prosa e verso destes escritores: Helio Begliomini, José Hugo de Lins Pessoa, José Rodrigues Louzã e Josyanne Rita de Arruda Franco.

18/12/2019

O PINCEL DE BARBA



Por: Manlio Mario Marco Napoli

No fundo do corredor do 3° andar, ala B, do Instituto de Ortopedia e Traumatologia, havia a sala 323, dormitório dos plantonistas do Pronto Socorro, onde também funcionava, desde meados dos anos 50, o chamado Grupo de Banho.

Era ali que nós Assistentes do Instituto nos reuníamos diariamente, após a faina nos ambulatórios, salas de gesso e centro cirúrgico, atividades que nos ocupavam toda amanhã.

Nessa sala se discutiam os grandes problemas do Instituto, mesmo os que já haviam sido submetidos as altas esferas administrativas e técnico-científicas. Também os trabalhos e casos discutidos nas reuniões semanais eram dissecados, criticados, aprovados ou não. Qualquer trabalho ou apresentação que não fosse aprovada pelo Grupo, certamente não seria aceita pela comunidade ortopédica.

Do grupo participavam muitos Assistentes e o seu Chefe, querido e ao mesmo temido, porém respeitado, era o saudoso Dr. Batalha.

Entre os assíduos frequentadores havia um ilustre descendente de lusitanos, como o Batalha.

O Chefe era sempre o primeiro a chegar e o último a sair, geralmente lá pelas treze ou quatorze horas, mesmo assim, sob a insistência e impaciência dos demais.

Certo dia, o Batalha fazia a barba e atrás, "filando" o espelho se encontrava o outro ilustre lusitano.

De repente, o Batalha percebe que seu companheiro trazia o pincel de barba não lavado e, em alguns pontos de sua extremidade, havia restos de espuma de sabão.

Simplesmente com poucas gotas de água, a espuma reapareceu e o rosto foi recoberto rapidamente.

Surpreso, Batalha abriu o diálogo, que na verdade foi um monologo- "Então, seu Lage, você há tantos anos convivendo conosco, jamais fez referência ao seu método de economizar sabão de barba. Bonito, hem? Isso é que se pode chamar traição! ".

Entre risos e admoestações, sem nada dizer e sorrindo levemente, Lage terminou de fazer a barba. Como era seu hábito, rapidamente saiu.

Batalha, entre os comentários dos demais, jurou que jamais lavaria seu pincel de barba a partir de então.

Devo confessar que também eu, há mais de trinta anos, tenho deixado a espuma secar em meu pincel de barba!

***

16/12/2019

ACIDENTE DE TRABALHO



Por: Mario Name

No ano de 1965, recém-formado, fui para a Santa Casa de Santos para fazer minha Residência em Cirurgia Geral. Completado o primeiro semestre e não obtendo os resultados que pretendia, fui convidado para ser Médico Interno da Santa Casa de Campinas. Medico Interno era o médico, solteiro naturalmente, que residia dentro do próprio hospital e atendia às urgências de todos os pacientes internados e os que chegavam no pronto-socorro do hospital. Hoje não existe mais essa categoria de médicos que foi substituída pelo médico plantonista.
        
A Santa Casa de Campinas tem um hospital anexo, que interna apenas pacientes particulares e de convênio, cujos lucros se revertem em beneficio da própria Irmandade. Este hospital foi inaugurado em 1935 e construído por três beneméritos da cidade, cujo sobrenome dá nome ao hospital: Hospital Irmãos Penteado.
        
Tive muita sorte, pois o colega que me antecedeu, excelente profissional e a quem devo minha formação, foi meu orientador, isto é, quem me ensinou a usar mãos, cabeça e coração. Naquela época ainda existia a figura do indigente, isto é, aquele que não tinha convênio, previdência ou qualquer direito que lhe garantisse assistência médica senão as Irmandades de Misericórdias e/ou hospitais públicos (raríssimos à época) nas cidades do interior.
         
O pronto-socorro da Santa Casa ficava localizado no corpo do Hospital Irmãos Penteado e, por essa razão, era frequente pessoas não indigentes serem atendidas ali sem, entretanto, remunerar o trabalho médico e os gastos hospitalares.
         
Não havia uma triagem, uma recepção administrativa entrada do pronto-socorro, isso ficava por conta do próprio médico-interno.
         
Certa ocasião, lembro-me que era noite alta, adentrou ao consultório uma paciente de ótima aparência, bem vestida, toda empetecada de joias, maquiada à maneira de quem vinha de uma reunião noturna.
         
Após minuciosa anamnese e concretizado o indispensável exame físico, não foi difícil fazer o diagnóstico: a paciente estava em franco processo de abortamento, com metrorragia moderada apesar do bom estado geral. Perguntei-lhe, então, enfim, quem seria a pessoa responsável por ela, se havia algum convênio etc.
         
Ela apenas me respondeu que não tinha convênio. Insisti na pergunta, já que não se tratava de uma indigente, por motivos óbvios e, após alguma delonga, ela afirmou apenas que trabalhava na "Casa da Alba", um dos prostíbulos mais conhecidos da cidade.
         
Disse-lhe que alguém teria de arcar com as despesas, já que teríamos que fazer transfusão de sangue, curetagem, anestesia etc. e teria que interná-la nos próprios do Hospital Irmãos Penteado e não da Santa Casa. Ao que, prontamente ela respondeu que eu poderia ligar para a "dona da casa" porque na Santa Casa ela não ficaria.
         
Liguei para o telefone que paciente me forneceu e pedi para falar com a "dona da casa", que me respondeu com agres­sividade, perguntando-me, afinal, se não era do Pronto-Socorro da Santa Casa. Disse a ela que sim, mas, no caso em questão, tratava-se de urna funcionária dela, e que, por essa razão, estava caracterizado um Acidente de Trabalho.
        
Depois de outras delongas e não querendo me expor demasiadamente, disse-lhe que faria o que fosse necessário para o tratamento, mas que o fato seria comunicado ao Departamento Jurídico da Irmandade no dia seguinte para as providências neces­sárias. 

No mesmo momento a "dona da casa" perguntou-me quanto seria a despesa e mandou o numerário através de um motorista de táxi.
        
Esse foi o acidente de trabalho mais pitoresco que conheci em toda minha vida de médico. E foi um indigente a menos...


***

13/12/2019

DOCE, COM AMOR



Por: Delfim Silva Pires

A história que vou contar provavelmente não é novidade e acredito que muitos de vocês já a conheçam.

E não tem importância o fato de ser uma história já conhecida, sua importância, para mim, decorre da maneira como a conheci.
            
Uma vez, há muito tempo atrás, no tempo em que eu era ainda criança, estávamos todos à mesa: meu pai, minha mãe e os filhos. Éramos seis filhos naquela época.
            
Minha mãe disse-nos: “Vou contar-lhes uma história”.
            
Éramos doidos por histórias, vivíamos pedindo que nos contasse histórias, rogávamos pelas suas histórias. Como éramos muitos filhos e todos pediam histórias, muito frequentemente ela nos contava histórias repetidas, então contávamos o final da história rapidamente, e dizíamos:

 — Tá vendo? Essa história já é velha, história repetida não vale.
            
Então imaginem vocês nossa curiosidade.
            
Imaginem. Nós nem havíamos pedido e ela se ofereceu para contar história, essa devia se mesmo das boas e novinha; não devíamos conhecê-la.
           
Ficamos todos em silêncio, para ouvir sua história. E ela começou assim:
            
“Havia uma família muito pobre e muito unida.
            
Certa vez, a mãe dessa família tendo um único pêssego, deu-o a filha caçula e disse:
            
Coma, só tenho esse, está bem maduro, e vai te fazer bem.
            
A menina guardou-o e, ao avistar o pai, deu-lhe o pêssego dizendo:
            
Pai, você deve estar cansado e eu guardei este pêssego para você.
            
Por sua vez o pai deu o pêssego para o filho, e o filho deu-o à mãe.
            
Então a mãe reuniu toda a família e disse:
           
— Hoje à tarde, dei um pêssego à Maria, ela guardou-o e deu ao pai, o pai deu-o ao Antônio, e o Antônio deu a mim. Portanto esse pêssego alimentou a todos, deu-nos muito amor, nós bem o merecemos. Assim sendo, repartiu entre todos”.
            
Estávamos todos embevecidos com a história e, ao mesmo tempo em que terminava a história, ela tirou uma pequena travessa do fogão, colocou-a sobre a mesa dizendo:
            
— Ganhei hoje este doce da vizinha, sei que ele é bem pouco para todos nós, mas é o que temos e, se vocês se lembrarem da história, perceberão que dá para todos e ainda há de sobrar para o resto de vossas vidas.
            
Passados tantos anos, ainda me lembro da travessa de doce, e ele me fez tão bem, que ainda hoje guardo seu gosto. Não podendo repartir o doce com vocês, reparto a história que tanto me emocionou.

***

11/12/2019

NATAL DE 2018


Por: Evandro Guimarães de Sousa

Nas semanas que antecederam o último Natal encontrei, na frente de um conhecido shopping de São Paulo, um gigante boneco vestido de Papai Noel e, pasmem, no lugar de sua conhecida e tradicional vestimenta vermelha com pele branca nos punhos e na gola, estava usando uma camiseta branca com estampa de bolas vermelhas.

Aí, fiquei matutando. Será que as altas temperaturas registradas na região da Lapônia durante este ano, interferiram na indumentária do bom velhinho? Ou talvez, teriam as despesas com a ração das renas, os honorários do Veterinário, o custo do IPVA do trenó ou os encargos trabalhistas de seus ajudantes motivado a venda do seu uniforme natalino tradicional?

Quando voltei ao shopping na véspera deste Natal, o Papai Noel já estava convenientemente trajado com sua roupa vermelha e branca, inclusive com o conhecido gorro, apesar do calor insuportável que tem feito nesta cidade. Descobri, então, que na minha passagem anterior os decoradores estavam na fase inicial de colocar sua vestimenta e, felizmente, o boneco ficou pronto de acordo com a tradição para alegrar a criançada que lá passava.

Depois do Natal, para minha surpresa, ao passar novamente em frente ao mesmo shopping, observei que Papai Noel agora estava vestido com uma camiseta verde, em posição de yoga, todo zen e rodeado de palmeiras artificiais.

Nada mais justo que um descanso, depois da exaustiva distribuição de presentes por este mundo afora na véspera do Natal. Imaginei ele, agora, curtindo uma praia à sombra de palmeiras, sorvendo uma água de coco geladinha para se refrescar, não antes de se besuntar com protetor solar!

Sabemos que o verde representa a esperança que todos nós temos para 2019. Esperança de um país melhor, mais justo, com melhorias na educação, no atendimento aos pacientes, com mais segurança e com políticos dedicados à causa pública e não mais atuando em benefício próprio.

Portanto, tenho certeza de que ele usou roupas no tom verde durante o Réveillon da passagem para 2019, assistindo a tradicional queima de fogos na praia de Copacabana.

Também acho que o vi no meio da multidão, durante a posse do atual mandatário desta nação, trajando vestes nas cores verde e amarelo, mesmo porque não seria recomendável utilizar seu costumeiro traje vermelho. Nesse dia, Papai Noel, com toda sua sabedoria secular, logo sacou que o melhor mesmo era se vestir adequadamente e garantir seu passe livre no céu de Brasília, para as costumeiras entregas de presentes no Natal de 2019. Concordam comigo?

***

10/12/2019

MAIS UMA EDIÇÃO DO JORNAL "O BANDEIRANTE"

O BANDEIRANTE - nº 325 - DEZEMBRO de 2019
(clique na capa abaixo para fazer download)

Na edição nº 325  do jornal "O BANDEIRANTE"  você encontrará o noticiário do período e na parte literária os textos em prosa e verso destes escritores: Evandro Guimarães de Sousa, Roberto Antonio Aniche, Sérgio Perazzo, Marcos Gimenes Salun e Márcia Etelli Coelho.

30/11/2019

BOA NOITE, MEU AMOR



Por: Mélida Francisca Velasco Cassanello

Boa noite, meu amor.
Eu vou embora
É noite de lua cheia.
É tarde, eu vou embora
É noite de lua cheia.

Boa noite, meu amor...
Mas, beija-me
Assim se despertam meus desejos.
É noite ainda.
Eu não quero ir embora.
É noite ainda.
Desejo ficar em teu peito,
Onde vagam meus desejos.

Boa noite, meu amor.
A estrela brilha.
É noite ainda.
Quero ficar em teu peito.
Assim nosso amor brilha.
É noite ainda.
Quero ficar em teu peito.

Boa noite, meu amor.
Dormiremos entre beijos.
Treme teu corpo, treme tua alma.
É noite ainda.
Deixa-me dormir delirando.

Boa noite, meu amor.
Não vou mais embora.

*** 


MINHA PRIMEIRA VISÃO DE MUNDO


por:  Juarez Moraes de Avelar

Quando nasci, a humanidade já sofria há três anos as terríveis atrocidades da II Guerra Mundial, período dos mais sangrentos de sua história. Naquela época, os meios de comunicação eram rudimentares, precários e lentos. Quando a notícia de um episódio sangrento chegava até o povo, outros de maior gravidade já haviam acontecido. Com efeito, as informações de que se dispunha nunca refletiam a situação do momento.

Contudo, a notícia do fim da Guerra, em agosto de 1945, com a assinatura da rendição japonesa aos americanos, foi recebida por todos com alívio. Portanto, três anos após minha chegada ao mundo, o anúncio do fim das hostilidades bélicas repercutiu rapida-mente em todos os cantos do país.

Quando me esforço para acessar informações sobre minha vida precoce, deparo-me com alguns episódios marcantes. A II Guerra Mundial é um deles com as páginas de tristeza e sofrimento. Entretanto, o primeiro registro armazenado em minha memória é a maravilhosa imagem de minha mãe grávida, com o meu irmão caçula, Jozimar, em seu volumoso ventre, quando eu ainda tinha três anos de idade. Minha saudosa mãe era dotada de boa estatura física, pele clara, olhos castanhos, cabelos não muito longos, que alcançavam os ombros; trajava vestes alvas, longas, abaixo dos joelhos, em que sobressaía o abdome proeminente. Em minha visão infantil, ela apenas parecia mais “gorda” que as demais pessoas. 

Contudo, certo dia, para surpresa minha e de meus irmãos, ela entrou em casa sem a aparência opulenta. Nos braços, trazia um bebê envolvido em uma coberta branca com detalhes azuis. Poucos dias antes daquele memorável episódio, eu havia completado quatro anos, e me lembro de nossa alegria com o nascimento do quinto filho de meus pais. Assim, em nossa família, éramos sete: papai, mamãe e nós, cinco irmãos.

Ainda cedo foi embalada por sonhos de futuro. Cada um de nós sempre demonstrou desejo de estudar e concluir cursos uni-versitários. Para meus pais, tais desejos ensejavam elucidativas conversas sobre atividades como Engenharia, Medicina, Direito, Pedagogia, Economia, Veterinária e Agronomia, que eram as profissões disponíveis aos jovens interessados na universidade. Essas profissões eram temas de debate, e nós, crianças, anunciávamos que escolheríamos esta ou aquela faculdade. No meu caso, ainda precocemente, cada vez mais se acentuava o desejo de tornar-me médico.

Enquanto meus irmãos mais velhos frequentavam o grupo escolar, eu, em razão da pouca idade, ficava em casa em companhia de mamãe, no desempenho das obrigações domésticas. Assim, desde minha infância já me identifiquei com o trabalho, razão pela qual sempre envidei esforços para realizar as tarefas com dedicação e empenho. Essa convivência com mamãe despertou em mim a curiosidade pela fita métrica, instrumento valioso para o trabalho exercido por meus pais. 

Inicialmente aprendi a ler os números da fita; em seguida, memorizei sua sequência, e depois aprendi a dobrá-la para obter a soma de suas metades e entender o significado da multiplicação. O mesmo ocorreu com as operações de divisão e subtração. Coisas elementares, mas para um garoto de cinco anos, fora do ambiente escolar, tais descobertas eram semelhantes à mágica. Minha curiosidade e o desejo de ajudar mamãe levaram-me a tentar algumas anotações, sendo alfabetizado por ela. Que alegria rememorar aqueles momentos de aprendizado, de descobertas tão importantes em minha vida!

Meu vínculo formal com a escola começou aos oito anos de idade e, graças às aulas de minha mãe, pude ingressar no segundo ano do curso primário (hoje chamado Ensino Fundamental). Com alegria, em companhia de Jomázio e Maria Helena, que carinhosamente chamava de Ena, apelido que se mantém até hoje, punha-me a caminho do grupo escolar. Durante o curto trajeto invadia-me um turbilhão de sentimentos, uma incrível sensação de felicidade, ao constatar que frequentar a escola era o passaporte que me levaria, um dia, a cursar uma Faculdade de Medicina, desde que me empenhasse para isso.

Como foi bom ser embalado por sonhos! O caloroso ambiente familiar era orquestrado por meus pais, que não mediam esforços para alimentar nossos sonhos infantis. Eles nos fizeram entender que para alcançar nossos projetos de vida era necessária dedicação aos estudos. Assim, fomos orientados a encontrar nas salas de aula e nos livros as respostas para nossas inquietudes na busca de conhecimento. No meu caso em especial, percebi que estudar com afinco era etapa indispensável para realizar o sonho de ser médico. 

Felizmente, após mais de seis décadas, posso constatar que meus objetivos foram alcançados. Melhor ainda é vivenciar a concretização de sonhos trans-formados em realidade pelo meu trabalho, um veículo para levar uma mensagem de fé a meus semelhantes que necessitam de meus conhe-cimentos, habilidade manual e arte para realizar a transformação física e psicológica de que necessitam.
_____________________

28/11/2019

PESADELO


Por: Maria Gertrudes Vagliengo Focássio 

Espontaneamente penetra em meus sonhos, com certa frequência, o Heliópolis, Hospital onde iniciei a minha carreira como médica. Mas. O edifício é outro bem diferente, dentro do qual me perco, tomo o elevador errado, sigo pelo corredor oposto ao que me levaria à saída mais propícia.

Caso me abordem, desconheço a orientação espacial para conseguir informar; se os residentes me solicitam discutir um caso, olho para o paciente, trêmula, em intensa sudorese, gaguejo sem lembrar-se de nada a respeito daquele doente da minha enfermaria.

Consigo finalmente repelir esse sonho que me deixa extenuada e, imediatamente, uma porta imensa se abre, empurrada por uma bruxa enorme, pavorosa. Que me persegue. Em seu bolso está um mega crachá escrito: “Receita Federal”.

Corro apavorada, porém ela lança uma rede e me aprisiona, dizendo com sua voz medonha: “Você está literalmente na malha fina. Vai ser multada”.
            
Quero assumir que vou pagar, porém minha voz é inaudível…

Preciso empurrar esse pesadelo para longe, todavia estou presa na malha fina e não consigo fazê-lo, nem fugir.
            
Outro pesadelo entra voando pela janela, na forma de um terrível gavião das montanhas e me livra daquela rede com seu bico dilacerador.
            
Porém não consigo me recuperar do susto do sonho anterior, ao ler o enorme crachá frouxamente pendurado ao pescoço do gavião mal encarado: “CET”. Mas ele se apresenta pomposamente: DETRAN para os íntimos, como você.
            
— Eu já estava de saída, balbucio, ofegante.
            
— Não! Não pode me evitar! Veja quantas multas! Noventa pontos na carteira. Vão perder a CNH.
            
E minha cabeça fervendo queria oferecer propina, contudo o medo é tanto que me retiro do sonho, trôpega cruzo a praça e estanco antes de atravessar outra rua. Um carro forte freia ruidosamente diante de mim e dele saltam dívidas que me rodeiam e se aproximam ameaçadoras.
            
— OK, Vou parcelar no cartão.
            
Saio correndo com a tocha olímpica e botas de sete léguas, adentro o mar, vou nadando com os golfinhos, voando com as gaivotas, até colidir com um foguete identificado com a inscrição “NASA”.
             
Por favor, implorei, leve-me até um sonho mais “light, cor de rosa e musicado”.
            
O foguete me deixa diante de uma vala cheia de dragões apavorantes, porém do outro lado, acenando-me, vislumbro meu príncipe encantado, cavalgando seu corcel branco, mas não pode me alcançar.
            
Súbito ele grita: — Pégaso!
            
Imediatamente surge o cavalo alado, meu herói pula-lhe na sela e ambos voam sobre a vala, chegando incólumes.
            
Quando meu amado segura minhas mãos e me beija, aparece diante de nós um flamboyant ornado com flores douradas luminescentes.

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